No fim das contas, portanto, somos introduzidos à relação interpessoal. Nem gente somos ainda, nos falta um percorrido para podermos nos perceber como alguém, como único, como sujeito, mas já estamos impelidos a nos relacionarmos. 

Durante o processo que é o de se reconhecer como ser humano, estamos em contato com outro, alguém que exerça as funções paterna e materna. Estamos observando, pois essa tal de vida, principalmente no começo, é repleta de novidades. Estamos experimentando sensações, algumas que causam prazer, outras que provocam desprazer. Estamos percebendo que existem diferentes pessoas, e algumas se tornam referências. É assim, então, que se inicia nosso movimento interativo. É possível, só a partir daí, notar a complexidade desse assunto. 

Vamos crescendo, vamos conhecendo outras pessoas, vamos à escola. A escola é um grande marco, pois acabamos conhecendo a professora, que é uma pessoa nova, mas também uma nova referência. Antes, tínhamos algumas figuras em casa, dentro da família, que ficaram por tanto tempo marcando essa presença e construindo, dentro de nós, sua representatividade. Na escola temos que descobrir, por conta própria, como se interage, como se faz uma amizade. Evidentemente, isso já foi estimulado em situações sociais anteriores. Porém, na escola, é você e você mesmo, por conta própria. É chegado o momento de se jogar, de descobrir sozinho qual a maneira de fazer isso. A escola é um verdadeiro mundo novo. E, a partir dela, está se desenvolvendo qual a forma que estabeleceremos nossas relações. 

Existe, então, algo mais antigo do que relacionamentos? Algo anterior? É através das relações que nos tornamos gente, que aprendemos, que crescemos, que nos constituímos. Não vejo segredo algum na curiosidade que esse assunto provoca nas pessoas. 

Agora, em se tratando de relações amorosas, que costumam ser especialmente provocativas, qual não é? Não nos apaixonamos por animais? Não nos apaixonamos por amigos? Não estamos compelidos a encontrar alguém e desejar ser o par desse alguém? Não somos amantes das nossas profissões? Tudo gira em torno do amor. Até mesmo o ódio é um afeto. E, em sendo um afeto, é sentido. As coisas ou as pessoas por quem sentimos ódio existem para nós, pois sentimos afeto por elas. O assunto é complexo. E nós, seres humanos, também.