Um estilo para chamar de meu... - Modaaz
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Um estilo para chamar de meu…

Durante minha infância, passava as férias de julho em Dom Pedrito, na casa dos meus queridos tios Tião e Tuza. Com ela, aprendi a fazer tricô, crochê, bordados e costura. Voltava para Porto Alegre cheia de criações feitas por mim e sentia o maior orgulho de ir à escola com meu uniforme totalmente customizado, graças as “aulas” da minha tia.

Desde então, comecei a me dar conta que a moda me interessava e que meu interesse por esse assunto era proporcional a minha vontade de ser diferente de todos. Isso, muitas vezes, me causava alguns problemas, mas nada que chagasse ao ponto de me fazer mudar. Sempre, literalmente, pintei e bordei meus “modelitos” e não estava nem aí com a opinião de quem quer que fosse. Quando chegou a adolescência, comecei a tentar definir um pouco o jeito de me vestir, porém, nunca consegui! Não era hippie, não era patricinha, não era gótica, não era clássica! Na verdade, não tinha definição, era uma mistura de tudo, só não sabia se isso era bom ou ruim.

Quando vim parar em Paris, conheci as francesas e me encantei. Para quem não as conhece, não pense chegar aqui e esbarrar pela rua em mulheres com enormes chapéus, super bem maquiadas e vestidas de grife da cabeça aos pés, como nos filmes. Bem difícil reproduzir a elegância delas, porque é quase algo nato, já nascem com esse opcional de fábrica. Prendem o cabelo num coque de qualquer jeito, penduram a bolsa de alças curtas no antebraço, jogam uma camisa branca no corpo, um lenço e o anel cheio de pedras que foi da tataravó… pronto! Ficam chiquérrimas, sem parecer que fizeram o mínimo esforço. E é essa a impressão que tenho, enquanto fico a tarde toda me preparando para jantar com um grupo de amigos, que elas são chiques e bem arrumadas sem se esforçarem demais. Mesmo quando mais sofisticadas, parecem simples e naturais. Ao longo do tempo convivendo com elas, tento cuidadosamente achar palavras para descreve-las…. Posso dizer que não dão a menor importância para tendências. Simplesmente se recusam a vestir o que as revistas de moda e as celebridades ditam como o melhor da temporada, escolhem roupas que correspondem à sua própria personalidade.

Sabem como ninguém misturar diferentes estilos de maneira bem criativa, associando peças usadas e novas, vestidinhos de verão com casacão de inverno e botas longas, artigos caros feitos por criadores e achados promocionais, contrastam perfeitamente peças com brilho ou de tecidos nobres, com largas jaquetas de motoqueiro ou com calças jeans e camisetas. As mais ousadas, conseguem valorizar ainda mais o visual com acessórios únicos, ainda que encontrados nos mais baratos brechós. Vestem as roupas nas quais se sentem confortáveis, são fiéis as formas e cores que lhes caem melhor. “Você nunca vai ouvir uma parisiense se queixar de que a saia está muito curta, o vestido muito apertado e os sapatos muito altos. ” Li isso num livro e assino em baixo. Jamais vi uma amiga francesa reclamar do que está vestindo. Na hora das compras sempre preferem qualidade a quantidade, isso é unanime! O casaco bem cortado, deve servir para ir ao trabalho, levar as crianças na escola e sair à noite para jantar com o marido. Não compram o que não estão certas de usar imediatamente e não guardam nada que lhes faça pensar: quem sabe um dia…. sabe-se lá se não vou precisar disso…

Apesar do amor à primeira vista e a admiração que tenho pelas mulheres francesas, não tento nem quero ser como elas. Em relação as minhas amigas daqui, acho que existe uma troca muito rica entre nós. Elas adoram minhas dicas, acham o máximo meu jeito, meu colorido, minha ousadia. Graças a elas, agora sei que não preciso de definições, não preciso de um estilo único “para chamar de meu”. Talvez o segredo seja exatamente misturar todos e não levar nenhum à sério. (Responderia isso, em alto e bom tom, para dar mais segurança a adolescente que fui.)
Nos inesquecíveis tempos das aulas de trabalhos manuais na casa da tia Tuza comecei a conhecer meu gosto próprio, minha individualidade. Nos muitos anos na França, aprendi e ter orgulho disso. Com minhas queridas francesas, aprendi, principalmente, que vestir-se não pode estar associado a nenhum sacrifício. E, fazendo um breve resumo de tudo que levo em conta nesse assunto, digo que o último grito da moda para mim é se sentir bem, porque nada é mais chique e elegante que isso.

Um estilo para chamar de meu, vida em paris
Foto: Lou Michel
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Luciana Michel

lu.fgmichel@gmail.com

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